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07 abril 2015

Um Voo Inesquecível, 15 Anos Depois!

   
      Faz quinze anos que um acidente quase me tirou a vida.

      Por considerar que ele poderia ter sido evitado; por eu estar aqui para narrá-lo; e sobretudo por estar feliz e agradecido a Deus por este privilégio, relembro hoje,  o dia em que decolei para realizar o voo mais infeliz  da minha vida!

                          ÚLTIMO VOO, AMARGAS LEMBRANÇAS!


    Esta é a história real de um acidente!  O Meu Acidente!


    Por mais de 10 anos passei por único culpado pelo ocorrido. Até pode ser.
    Sempre que acontece um acidente ou catástrofe, afirmamos que isso aconteceu por uma somatória de sucessivos erros, cujo desfecho deu no que deu! As pessoas envolvidas no episódio, são reais.

   No dia 8 de Abril de 2000, por volta das 12:00 horas, sofri um acidente no Aeroporto de Atibaia quando eu testava um trike confeccionado pelo Uraci e recém adquirido pelo Ernesto. 

   Como sempre ajudei e ensinei alguns amigos 
tanto no voo livre, como em trike, não recusei o pedido do Ernesto, para testar o equipamento.


Itatiba 1990
    Entretanto, não sabia que o Uraci  havia realizado profundas modificações naquele trike, que  comprometeram drasticamente o seu desempenho em voo... Desconfigurou todo o aparelho que eu já havia voado alguns anos antes.

   Mudou o Centro de Gravidade (CG), fixando o trike muito avançado na quilha da asa, deixando-o demasiadamente "picado". Embutiu os floaters dentro da vela da asa- Comet-, curvando para baixo, os bordos de fuga nas extremidades, que só em voo se percebia!

  Ao rolar na pista,  foram necessárias velocidade e potência máximas do motor para a decolagem!  Ao deixar o solo, em estol total, mal consegui altura suficiente para sobrevoar os hangares.

  Permaneci voando com extrema dificuldade no setor indicado para ultraleves, sobre a Rodovia Fernão Dias, mantendo potência plena no motor.  Qualquer tentativa de redução, a asa entrava num mergulho vertiginoso!  Penosamente, procurei manter o voo no setor, aguardando uma chance de pista livre para tentar por fim àquele pesadelo!

  Voava a uma velocidade acima de qualquer trike que eu já havia pilotado. Após alguns minutos, naquelas circunstâncias, uma eternidade - tendo cessado o movimento de aviões - voei em direção à cabeceira da pista.


Nata-RN 1988.
     Na reta final, com vento de proa - ao tentar uma pequena redução na potência - um afundamento incontrolável ocorreu!  Avistando  a cabeceira da pista acima da linha do horizonte, voltei à potência máxima do motor. O aparelho já não obedecia a nenhum comando! Ganhei um pouco de altura - o suficiente para tocar o bordo da pista - porém,  ele derivava para a esquerda, rápido e incontrolável!

   Todos os comandos pra sair daquela situação foram inúteis!  Só me lembro de ter visto a ponta esquerda da asa indo de encontro ao barranco! 


Porto Seguro-BA 1988.
     Senti uma pancada forte no lado esquerdo da cabeça! 

    Me vi em seguida deitado sem o capacete olhando o céu azul. Tentei mexer meus braços e pernas, mas não consegui; respirava com grande dificuldade! 

   Conclui que tinha lesionado a coluna cervical em níveis muito altos!

   A partir daquele momento, a minha luta era pela vida! 


Itatiba-SP 1991.
     O resgate chegou rápido. Eu estava consciente!

    Na UTI de um hospital em Atibaia -  recebia os cuidados de emergência - enquanto  aguardava remoção para outro hospital na cidade de Campinas!  Continuava com muita dificuldade para respirar!  Naquele momento, para o Sr Newton - Administrador do Aeroporto - a preocupação era com os problemas que o acidente poderia causar ao Aeroclube (Intervenção do D A C ).  Ao meu ouvido, insistiu para que declarasse à Polícia  que eu havia confeccionado o aparelho - que era o proprietário; que assumisse  total responsabilidade pelo ocorrido. Assumi.

    Vivi tempos difíceis nos anos que se seguiram!  Mas, com a ajuda da minha honrada família, em nenhum momento desisti de lutar!

    Hoje sou um portador de necessidades especiais vivendo como sempre vivi: intensamente, limitado apenas  pela tetraparestesia espástica com lesão medular em C3/C4. 

    Cada dia vivido é como um presente Divino!

Ubatuba-SP - 1991.
      Ainda hoje, não encontrei uma resposta  aceitável para esta pergunta:
      Como um principiante em voo motorizado - sem nenhuma formação em aeronáutica e com um conhecimento pífio  em aerodinâmica - se acha competente para realizar consideráveis modificações estruturais e de design  numa aeronave, comprometendo radicalmente a segurança do voo?  Some-se a isso, a irresponsabilidade de vender o aparelho sem antes testá-lo pessoalmente, ou alertar o comprador sobre as mudanças!    

      Enfim, reconheço que mesmo com uma experiência de doze anos voando trike - somados a mais onze de voo livre em asa delta - cometi imperdoáveis erros, ou pecados:
     Excesso de voluntariedade;
     Confiabilidade exagerada;
     Cordialidade isenta de malícia...
      
     Publicado anteriormente aqui em 11 de junho de 2013.
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